No Brasil, temos a garantia de
algumas palavras populares serem inseridas na norma gramatical vigente; prática
ainda pouco vivenciada no diálogo dos grandes empreendimentos com a sociedade.
E, como no dito popular: “quanto maior a altura, maior será o tombo”. E, se
tratando de Comperj, quanto maior o empreendimento, maior será o impacto na
região, sejam eles positivos ou negativos. E, pelo andar da ‘carruagem’ ou
diria ainda da ‘carroça’, sem o planejamento necessário em Itaboraí, corremos o
risco de cairmos do cavalo.
Era noite do dia 25 de janeiro de
2012, para alguns munícipes o ponto em discussão na Audiência Pública, em
Itaboraí, era o Projeto do Emissário Terrestre e Submarino do Complexo Petroquímico
do Rio de Janeiro, uma tubulação, com um trecho em terra e outro no mar, a ser
implantada para escoar (passar, fazer correr ou escorrer) efluente industrial
tratado produzido no Comperj e descartá-lo em local, doravante ‘ambientalmente
adequado’. Contextualizando, efluentes são geralmente, produtos líquidos ou
gasosos, no caso em questão, produzidos por indústrias, que são lançados no
meio ambiente. Com recomendações legais, de que sejam tratados, com um sistema
de monitoramento confiável.
A população presente em tal ato,
mal teve entendimento do que estava sendo apresentado bem ali, diante dos seus
olhos. Muitos cidadãos e cidadãs compareceram, cansados de um dia de labuta,
ou, no caso das donas de casa, que deixando seus afazeres adiantados, se
fizeram presentes, buscando ouvir algo que de certa forma tivesse ligação com a
sua rotina. E, como ouvinte, o ponto que foi entendido em unanimidade é de que haverá
algum tubo ou canos levando alguma coisa para algum lugar.
Enquanto isso, no mesmo dia e
mesmo horário, no município do Rio de Janeiro, um fato, aparentemente, sem elo
com o debate da Audiência Pública em Itaboraí, assolava todo o país: prédios
desabando no Centro da cidade metropolitana! No avançar das horas, contagem
contra o tempo para resgatar pessoas com vida... Vida, vida... Vida!
Mais um pouco, as possíveis
causas do caos: a declaração do CREA, de que estava tendo obras no terceiro e
no nono andar do edifício Liberdade (até parece analogia à vida e à morte), localizado
no Centro - RJ, com mais outros dois prédios. E, algumas horas adiante, a
afirmação também do CREA, de que estas obras eram ilegais.
ILEGALIDADE: palavra em comum nos
dois acontecimentos com semelhantes datas e horários, em municípios separados
pela Baía de Guanabara. E, que o acaso, colocara separados nas linhas do tempo
simbolicamente da Ponte Rio – Niterói, na contemporaneidade do antes e do
depois.
Tal fato até seria cômico, se não
fosse trágico.
Enquanto Agenda 21, se tratando
de preservação da vida no planeta, nos resta aclamar que se torne público, e,
em linguagem clara, todo o processo de legalidade de tão vultoso investimento
na cidade de Itaboraí e demais empreendimentos subseqüentes, como no caso, o
ainda em projeto, Emissário Terrestre e Submarino do Comperj. E, paralelamente,
as estruturas necessárias, que possa assegurar o mínimo de riscos, principalmente
à população em maior proximidade.
Preocupa-nos ainda mais, o
silêncio do povo Itaboraiense diante de medonhos acontecimentos, como se num
ato profético, assemelhando-se ao silêncio dos familiares das vítimas dos
prédios desmoronados no Centro do Rio de Janeiro, diante de uma catástrofe; abrigados
pela Câmara Municipal.
Que a pedra fundamental, que na
ocasião do início das obras do Comperj o presidente Lula profetizou como sinal
de progresso, seja o alicerce responsável por muitas novas vidas unidas às já
existentes na cidade de Itaboraí, e, não venham se transformar em pedras de
escombros e de tristezas.
Ivone Chaves de Oliveira
Coordenadora Geral do Fórum da Agenda 21 de Itaboraí