terça-feira, 5 de junho de 2012
Crise ambiental, sociedade civil e Agenda 21
Os efeitos e limites impostos pela natureza ao modelo de desenvolvimento econômico e social ao longo das últimas décadas colocaram as nações diante de desafios globais que envolveram, e ainda envolvem, a superação de desastres ambientais, mortes, prejuízos para a saúde e pobreza, difusão de informações, produção de conhecimento, mas também questionamentos sobre o modo e os padrões de produção e consumo que evidenciam as relações entre modelos de desenvolvimento econômico e utilização dos recursos ambientais. Tanto os Estados nacionais como as instituições multilaterais – ONU, Banco Mundial – reconhecem a inviabilidade de um modelo de desenvolvimento que ignore as questões relativas aos custos ambientais e sociais e seus efeitos, muitas vezes drasticamente compartilhados por diferentes países. Novas demandas do sistema econômico mundial, relativas a uma reorganização para dar conta dos limites de exploração da natureza, reconfiguram novos atores e seus papéis não apenas no sistema produtivo, mas também no debate em torno de questões ambientais globais. Nesse movimento, novas categorias são construídas ou rearticuladas. Entre elas o conceito de desenvolvimento, agora sustentável, que passa a incorporar as dinâmicas socioculturais em um “novo” modelo, construído a partir de uma perspectiva consensual do meio ambiente. O conceito de desenvolvimento sustentável possui uma perspectiva harmonizadora, onde equidade social, progresso econômico e meio ambiente aparecem como categorias dotadas de uma universalidade, apesar de inserido em políticas regionais e locais. A ideia de sustentabilidade que permeia essa nova visão defende a reorganização da sociedade em torno de valores que promovam a sustentabilidade e uma reapropriação de saberes para a gestão do meio ambiente. Nos anos 80, a temática ambiental começa a ocupar espaços significativos como, por exemplo, as pautas e plataformas de partidos políticos norte-americanos e europeus, e as agendas de relações públicas de grandes empresas, não apenas como estratégia de mercado, mas também como políticas setoriais que levassem em conta os custos ambientais do processo produtivo. A esse avanço, no sentido de uma conscientização da opinião pública, Manuel Castells chamou de “verdejar” do ser. Atualmente, um olhar mais atento sobre as dinâmicas das Conferências e acordos sobre metas ambientais, nos mostra a importância crescente da comunidade acadêmica na construção e compartilhamento de informações técnicas e indicadores acerca do desflorestamento, da emissão de carbono ou preservação da biodiversidade, pautando as ações de governos, possibilitando avanços, ou recuos, no sistema de governança ambiental. Relatórios vêm apontando que conflitos socioambientais e a má gestão dos recursos naturais resultam muitas vezes em confrontos políticos e sociais quanto mais vulneráveis as populações atingidas, demandando de governos nacionais e locais ações
e recursos que poderiam ser eficientemente aplicados na produção mais eficiente, reduzindo as consequências da exploração predatória e capaz de produzir efeitos no sentido de uma sustentabilidade social e econômica. Em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento elabora o documento Nosso Futuro Comum (Our Common Future), conhecido como Relatório Brundtland, propondo princípios importantes, até hoje em discussão, na busca da segurança e do desenvolvimento sustentável. A perspectiva de interdependência dos campos econômico, ambiental e de segurança alterou o conceito de soberania nacional na gestão de ecossistemas que envolvem mais de um país, principalmente no sistema de produção e comercialização de commodities, proteção da biodiversidade e controle de emissões de carbono. Sabemos que relatórios e protocolos são importantes instrumentos propositivos que buscam orientar as ações em torno de determinados problemas. O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) representou um avanço no entendimento dos fatores humanos e naturais na mudança climática. No sentido de harmonizar os esforços nacionais com os objetivos globais na construção de um sistema de governança ambiental internacional pautado por processos de negociações envolvendo tratados, convenções e protocolos, há um consenso sobre a necessidade de construção de agendas nacionais e um sistema de redes envolvendo atores locais a fim de estabelecer critérios acerca do que é ser sustentável. Às portas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20, que se realizará na cidade do Rio de Janeiro em junho de 2012, enquanto momento que busca concretizar, ou ainda avançar, a tríade - formas de desenvolvimento econômico articuladas ao combate à pobreza e à gestão sustentável dos recursos naturais – há um consenso na urgência de se consolidar na arena ambiental um arcabouço institucional capaz de articular não somente o global ao local, mas a multiplicidade de interesses, culturas, categorias simbólicas que emergem das especificidades do que é chamado por local. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como Eco-92, no Rio de Janeiro, consagrou o papel da sociedade civil organizada, movimento que se redesenhava, anteriormente à década de 1970, motivados, principalmente, por ações de resistência às ditaduras e de busca de novos formatos participativos. Os chamados novos movimentos sociais se constituem enquanto formas alternativas ou complementares aos movimentos tradicionais de luta de classes, sindicais, focados na relação entre capital e trabalho. A Agenda 21 Global é um documento dividido em 40 capítulos e assinado pela maior parte dos países que participaram da Rio-92. Inserida na lógica das intervenções setorializadas, o terceiro setor tem uma importância estratégica para uma integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada decisões que podem nortear as políticas públicas, principalmente aquelas que afetam diretamente a localidade. É importante ressaltar que a promoção das Agendas Locais dependeu, e ainda depende, de iniciativas envolvendo as ações dos três setores da sociedade – Governo local (poder
municipal), setor empresarial local e comunidade na construção de propostas e tipos de atuação que possam permitir a inserção dos princípios do desenvolvimento sustentável na promoção das políticas públicas, em especial nos planos locais de desenvolvimento sustentável. Os fóruns da Agenda 21 podem ser considerados uma resposta para uma conjuntura de crise de modelos gestão e eficácia institucional no sentido de promover um sistema de governança onde equidade, empoderamento, desenvolvimento social e econômico não estejam em campos antagônicos. Mas harmonizados e articulados na promoção de um padrão de desenvolvimento que concilie métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
Lídice de Barros Guerrieiro (lidguer@gmail.com) Mestranda em Educação (UFRJ) Membro do LIEAS/UFRJ (Laboratório de Investigação em Educação, Ambiente e Sociedade)
sábado, 2 de junho de 2012
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